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quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

O “poder invisível” do mercado

Muito tem sido falado sobre o mercado e seu domínio sobre a sociedade. Especialmente com a ampliação do livre comércio, que possibilitou uma até então inimaginável especulação financeira, cresce a crença num assim chamado "poder invisível" do mercado. O Estado de bem-estar social e a democracia são mundialmente apresentados como obstáculos à "ordem econômica". Governos devem possuir sempre menos poder, especialmente nos "países em desenvolvimento", de forma que os investidores não temam em investir seu dinheiro ali. Aliás, o dinheiro especulativo, que representa 90% do dinheiro que diariamente circula pelo mundo, é denominado como "ajuda" e aceito como decisivo fator de desenvolvimento. Para que os governos possam ser bem credenciados a "atrair" investimentos, eles devem oferecer uma alta taxa de juros, com os quais seus países se tornem mais "atrativos". Nisto estão incluídos a privatização de empresas, a queda de impostos, o racionamento do crédito e o combate à inflação como pressupostos para a "atratividade" do mercado. Mas, afinal de contas, quem decide sobre o mercado?

Assim como nos anos 90 a globalização fôra aceita como inevitável, agora é aceito o argumento de que nenhum governo pode renunciar aos investimentos especulativos. Se um governo pretende renunciar à especulação, já se assinala um quadro de caos, porque os especuladores, então, tirariam seu dinheiro do país e poderiam investí-lo em outro. A única alternativa dos governos seria oferecer as melhores condições aos especuladores e esperar que o dinheiro, de fato, seja investido em seu país. Através desta concepção, os especuladores já possuem mais poder que os Estados Nacionais e podem, inclusive, influenciar eleições, apoiando candidatos que a eles melhor se adaptem.


No Brasil, por exemplo, George Soros, um dos maiores especuladores do mundo, se pronunciou a favor de Serra, candidato do atual governo, ao afirmar que uma possível vitória da oposição significaria o caos. "Ou Serra ou o caos" serviria para mostrar que o povo brasileiro sequer teria outra alternativa a não ser a de concordar com os "interesses do mercado". A ameaça é tão forte que Lula, candidato da oposição, se sente obrigado a se adaptar sempre mais ao mercado e não expressar nenhuma opinião que possa ocasionar uma "fuga de investimentos". 


Já é de notar que por detrás da concepção de supremacia do mercado estão escondidos interesses políticos que, claramente, confrontam com os interesses das nações. Mas por que os governos têm feito tão pouco contra isso? Eles possuem realmente tão pouco poder diante do crescente mercado especulativo? Podemos partir do pressuposto de que sem decisões políticas o mercado especulativo nem sequer existiria. Instituições internacionais foram criadas, reuniões de chefes de Estado aconteceram e regras foram acordadas para que o livre comércio pudesse ser ampliado. Os governos que apoiaram estas instituições e regras são responsáveis pela atual situação. Mas, exatamente estes governos, agora que os problemas sociais já são tão visíveis, procuram responsabilizar o mercado pelas suas próprias decisões. Se não existissem regras seria impossível negociar, porque todos os negócios dependem de regras. Sem obediência e aceitação das regras, nenhum investidor ou comerciante está seguro de que será pago, o que pode comprometer a lógica do mercado. 

Como não existe mercado sem regras, as decisões políticas são responsáveis pela manutenção ou mudança da situação econômica. Mas a política é influenciada pela economia e, normalmente, os governos são tão subservientes que os interesses do capital são simplesmente aceitos como interesse do Estado e nem sequer ainda são limitados pelos governos. Isso significa que não basta ter governos ou reforçá-los; é necessário que a população em geral se organize politicamente na sociedade civil, que troque governos e que os coloque sob pressão quando confrontam os interesses públicos.

Por detrás do poder do mercado estão, evidentemente, os interesses do capital, que procura cada vez mais decidir a política dos países a favor de seus privilégios. Apesar desse poder ser apresentado de forma ideológica como um sistema autônomo, ele só é tão significativo porque existem governos que consentem aos interesses do capital e porque, nos últimos dez anos, os movimentos sociais recuaram sensivelmente. Mas já há sinais de uma resistência política. O surgimento do movimento internacional de crítica à globalização neoliberal, o qual muitos nem poderiam imaginar na década de 90, é uma demonstração de que a humanidade não se adapta tão simplesmente à lógica do mercado, especialmente porque esta lógica aprofundou a desigualdade social e não vem ao encontro aos interesses da maioria. Novamente fica claro que democracia e liberdade não são uma oferta do mercado ou do Estado e que somente poderão ser alcançadas através da sociedade organizada.



Antônio Inácio Andrioli

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